Aprenda mais sobre o Melanoma

O melanoma é um câncer de pele cuja origem encontra-se nos melanócitos, células responsáveis pela produção de pigmento da pele – a  melanina. Sua capacidade de metástase (espalhar-se) é muito grande, sendo assim, uma das formas mais agressivas e perigosas de câncer[1]Miller AJ, Mihm Jr MC. Melanoma. New England Journal of Medicine. 2006 Jul 6;355(1):51-65. Disponível em: … Continue reading.

A doença ocorre com mais frequência nas partes do corpo que ficam mais expostas ao sol, como olhos e orelhas, por exemplo. Contudo, também pode aparecer em regiões internas do corpo, como no aparelho digestivo e genital[2]Schadendorf D, Fisher DE, Garbe C, Gershenwald JE, Grob JJ, Halpern A, Herlyn M, Marchetti MA, McArthur G, Ribas A, Roesch A. Melanoma. Nature reviews Disease primers. 2015 Apr 23;1(1):1-20. … Continue reading.

Os sinais de um melanoma são muitos e podem variar desde uma mudança no aspecto de uma pinta já existente ao surgimento de outras manchas e lesões. Por isso, qualquer alteração observada na pele deve ser averiguada por um dermatologista.

Neste artigo, você irá conhecer melhor esta grave enfermidade, aprenderá a reconhecê-la e ainda descobrirá como preveni-la.  Continue a leitura para saber mais!

O que é melanoma?

O melanoma é um tumor maligno originado nas células produtoras do pigmento da pele. A doença é grave, já que o tumor pode invadir qualquer órgão, o que inclui cérebro e coração. Por isso, se trata de um câncer de alta letalidade[3]Houghton AN, Polsky D. Focus on melanoma. Cancer cell. 2002 Oct 1;2(4):275-8. Disponível em: https://www.cell.com/cancer-cell/pdf/S1535-6108(02)00161-7.pdf

Infelizmente, a sua incidência tem crescido de forma significativa em todo o mundo, sendo este o tipo de câncer de pele mais frequente entre os brasileiros, correspondendo a 25% dos tumores malignos registrados no país. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), surgem 6 mil novos casos da doença anualmente no Brasil[4]Rigel DS. Epidemiology of melanoma. InSeminars in cutaneous medicine and surgery 2010 Dec 31 (Vol. 29, No. 4, pp. 204-209). WB Saunders..

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Tipos de melanoma

O melanoma se divide em 4 tipos clínicos, como veremos a seguir:

Melanoma extensivo superficial

Esta é a forma mais comum da doença e afeta principalmente pessoas de pele clara. O quadro é marcado por lesões planas e de cores irregulares, mesclando entre tons de preto e marrom. 

 

Melanoma nodular 

O seu aspecto visual é facilmente diferenciado do Melanoma extensivo superficial. Se trata de uma área elevada, de cor preta azulada ou vermelha azulada. Em alguns casos os melanomas deste tipo se desenvolvem sem nenhuma cor. 

Melanoma lentigo maligno

Mais frequente em pessoas de idade avançada, devido aos danos causados pelo sol na região do rosto, do pescoço e dos braços. Neste caso, as lesões são grandes, planas e têm um aspecto bronzeado.

Melanoma lentiginoso acral 

Embora raro, este tipo também deve ser descrito. O melanoma lentiginoso acral atinge principalmente as palmas das mãos, as solas dos pés e a região embaixo das unhas. A condição é mais comum em afroamericanos.

Causas

O melanoma ocorre quando os melanócitos, células produtoras de melanina, que dão coloração a pele, estão desequilibrados e começam a se reproduzir de maneira desordenada[5]Eggermont AM, Spatz A, Robert C. Cutaneous melanoma. The Lancet. 2014 Mar 1;383(9919):816-27..

Quando ocorre um desajuste no DNA as novas células começam a se reproduzir de maneira constante, acumulando-se e formando o cancro.

Os fatores que podem desencadear essa distorção do DNA podem ser de origem genética ou ambiental, como a exposição demasiada aos raios ultravioletas e câmaras de bronzeamento, por exemplo.

Principais sintomas

Aparecimento de manchas ou pintas com coloração diferenciada da pele, variando desde o preto, azuis e vermelhas;
Coceira, vermelhidão e dificuldade de cicatrização da pele;
Assimetria, bordas irregulares e cores diferenciadas e surgimento de novas lesões e modificações da mesma;
Aumento do diâmetro da pinta ou da mancha.
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Fatores de risco

A exposição inadequada ao sol ao longo da vida pode levar ao desenvolvimento do melanoma. Muitas queimaduras e uma exposição a radiação solar sem os cuidados necessários, podem ser fatores de risco para o surgimento do câncer.

Mas não se pode reduzir o fator ambiental como único responsável pelo aparecimento do melanoma, uma vez que sua incidência pode ocorrer em outros órgãos, como nos internos.

As pessoas de pele branca, homens e acima de 50 anos são o grupo mais vulnerável ao aparecimento do melanoma. Indivíduos com sardas, ou que têm dificuldade de se bronzear e sempre se queimam, também estão no grupo de risco.

As pessoas que possuem muitas pintas no corpo devem ficar atentas, observando  o surgimento de novas, suas modificações no tamanho e na coloração. Aqueles que tem a imunologia fraca e apresentam um histórico familiar de melanoma também devem ter atenção, pois o risco é maior.

É importante lembrar que o melanoma não é o único tipo de câncer de pele. Existem outros tipos de cancro que não se transformam em melanoma. Como já dito acima, o melanoma se desenvolve nas células que formam o pigmento da pele – os melanócitos. Mas existe também o câncer tipo carcinoma espinocelular, que se desenvolve nas células epiteliais e o carcinoma basocelular que tem origem nas células basais.

Quando buscar ajuda médica?

Agora que você já conhece bem os sintomas do melanoma e seus fatores de risco, ficou mais fácil reconhecer a doença. Ainda assim, cabe a pergunta: quando buscar ajuda médica?

É importante ficar de olho nos sinais típicos da condição, especialmente se você faz parte do grupo de risco. Que tal alguns exemplos?

  • Mudança de formato, cor ou tamanho de uma pinta;
  • Mudança no tamanho, forma, cor ou pele ao redor de uma marca de nascença;
  • Pinta com sangramento;
  • Área descolorida sob a unha que não foi causada por uma lesão;
  • Escurecimento da pele em geral relacionada com a exposição ao sol.

 

Diante dos sintomas descritos acima, recomendamos que agende uma consulta com o seu dermatologista quanto antes.

Fique de olho também nos sinais de agravamento do caso: 

  • Dificuldade para respirar ou engolir;
  • Tossir ou cuspir sangue;
  • Sangue em seu vômito ou diarreia;
  • Urina ou fezes negras.

Diagnóstico de melanoma 

Durante a consulta médica, além de analisar por completo o seu histórico médico de saúde, o dermatologista irá fazer uma avaliação completa dos sintomas e fatores de risco apresentados. 

Para um diagnóstico assertivo, serão requeridos alguns exames complementares.

Exame morfológico

Este é o exame mais simples, realizado durante a consulta. O médico irá observar o tamanho, a forma, a cor e a textura das lesões apresentadas. Além disso, devem ser averiguados os gânglios linfáticos da virilha, da axila e do pescoço.

Dermatoscospia

Enquanto realiza o exame morfológico o especialista também pode lançar mão da dermatocospia. O procedimento consiste na utilização de um aparelho dermatoscópio para ampliar a imagem da pele, o que facilita a documentação das manchas. 

Biópsia

Sem dúvidas, o exame mais importante para o diagnóstico do melanoma. Neste caso, é feita a retirada de uma parte da pele, que será estudada através de um microscópio por um patologista. 

Através da coleta do tecido canceroso é possível que se realize a biopsia do mesmo, ou seja, a avaliação histológica do tecido, a fim de averiguar se o mesmo é canceroso mesmo, qual o seu tipo e grau de risco. No caso do melanoma, somente com a biópsia é possível o diagnóstico definitivo de câncer. Cirurgias para retirada do nódulo, radioterapia e quimioterapia são os principais tratamentos para a cura do mesmo.

Genotipagem pela técnica de SNaPshot e Hibridização Fluorescente in situ (FISH) para melanoma

Tais técnicas são capazes de identificar com rapidez anormalidades genéticas que podem estar associadas ao aparecimento do melanoma. 

DecisionDx-Melanoma

O teste examina certos padrões da expressão genética em células afetadas pelo câncer identificando aquelas que tem propensão para de se espalhar. 

Tratamento do melanoma

O tratamento do melanoma irá depender muito do tamanho e do estágio do câncer, e do estado de saúde do paciente[6]Domingues B, Lopes JM, Soares P, Pópulo H. Melanoma treatment in review. ImmunoTargets and therapy. 2018;7:35. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc5995433/. Por mais clichê que possa parecer, é fato, o diagnóstico precoce pode salvar vidas. Quanto mais cedo a doença dor identificada e, portanto, tratada, melhor o prognóstico. 

Quando em estágio inicial, a cirurgia geralmente é suficiente, removendo por completo o tumor. O melanoma, quando muito fino, pode ser retirado até mesmo durante a biópsia, não sendo necessária nenhuma outra intervenção.

Se a doença já se encontrar avançada, tendo se espalhado para além da pele, podem ser recomendados os seguintes métodos terapêuticos: 

  • Cirurgia para remover linfonodos comprometidos;
  • Quimioterapia;
  • Radioterapia;
  • Terapia biológica;
  • Imunoterapia.

Por que o diagnóstico precoce é tão importante? 

Como podemos ver anteriormente, o tratamento do melanoma diagnosticado em estágio inicial é muito mais simples. Dessa forma, é maior a chance de cura. 

Quanto mais tarde for detectada a doença, mais complexo o seu tratamento, e maior o risco de morte. 

Falaremos mais sobre o prognóstico do melanoma a seguir.

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Prognóstico

O melanoma é uma doença grave, e pode se espalhar rapidamente, levando a morte em poucos meses. Contudo, como vimos, quando identificada precocemente a doença pode ser contida com uma certa tranquilidade. Você sabia que quase 100% dos melanomas iniciais superficiais saram por completo com cirurgia? 

Por outro lado, aqueles que crescem 1 milímetro dentro da pele já possuem um grande risco de formar metástases nos gânglios linfáticos e vasos sanguíneos. Quando isso acontece, a taxa de sobrevida de 5 anos cai para algo entre 25% e 70%.

Em suma, a evolução da doença irá depender muito de quando é identificada e da eficiência do sistema imunológico do paciente. 

Como prevenir

Agora que você já sabe que o melanoma é frequentemente causado pelo excesso de exposição da pele ao sol, ficou fácil pensar em prevenção. 

As medidas preventivas devem ser adotadas por todos, desde a infância:

Evitar o sol: em especial entre 10h e 16h, quando os raios estão mais fortes.
Evitar o uso de bronzeamento artificial
Usar vestuário de proteção: camisas compridas, calças, chapéus, em especial aqueles que trabalham em áreas abertas.
Usar protetor solar: o fator de proteção solar 30 é o mínimo recomendado, deve-se ainda realizar reaplicações a cada duas horas.
Fazer check-ups dermatológicos anualmente.
Pessoas que já tenham tido um melanoma devem ser submetidas a exames de pele regularmente.

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas
1 Miller AJ, Mihm Jr MC. Melanoma. New England Journal of Medicine. 2006 Jul 6;355(1):51-65. Disponível em: https://www.academia.edu/download/47584081/Microbial_Ecology_of_Aerial_Plant_Surfaces.pdf#page=70
2 Schadendorf D, Fisher DE, Garbe C, Gershenwald JE, Grob JJ, Halpern A, Herlyn M, Marchetti MA, McArthur G, Ribas A, Roesch A. Melanoma. Nature reviews Disease primers. 2015 Apr 23;1(1):1-20. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5280049/mod_resource/content/1/Revisa%E2%95%A0%C3%A2o%20-%20Melanoma_nrdp20153.pdf
3 Houghton AN, Polsky D. Focus on melanoma. Cancer cell. 2002 Oct 1;2(4):275-8. Disponível em: https://www.cell.com/cancer-cell/pdf/S1535-6108(02)00161-7.pdf
4 Rigel DS. Epidemiology of melanoma. InSeminars in cutaneous medicine and surgery 2010 Dec 31 (Vol. 29, No. 4, pp. 204-209). WB Saunders.
5 Eggermont AM, Spatz A, Robert C. Cutaneous melanoma. The Lancet. 2014 Mar 1;383(9919):816-27.
6 Domingues B, Lopes JM, Soares P, Pópulo H. Melanoma treatment in review. ImmunoTargets and therapy. 2018;7:35. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc5995433/

Dra. Juliana Toma

Médica Dermatologista - CRM-SP 156490 / RQE 65521 | Médica formada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Residência Médica em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Título de Especialista em Dermatologia. Especialização em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês. Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA. Ex-Conselheira do Conselho Regional de Medicina (CREMESP). Coordenadora da Câmara Técnica de Dermatologia do CREMESP (2018-2023).

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